segunda-feira, 28 de março de 2011

Os alimentos em sua geografia

Não quero aqui defender a criação de mais um segmento dentro do mundo, já tão amplo, de atuação dos Geógrafos. Mas hoje, me sinto na obrigação, como geógrafa, de trazer um tema para debate que poucas vezes é lembrado pelo mundo geográfico ou então, noutras tantas, passamos sempre pela tangente.

Gostaria de explorar um pouco o universo da alimentação, dos espaços de consumo, dos hábitos alimentares, da sociedade de consumo, dos produtos diferenciados, etc, etc, etc. O alimento, em seu processo de transformação, movimenta o mundo e a sociedade. Vivemos para produzir, para comprar, para transformar. A relação entre a sociedade e a natureza é mediada pela técnica e baseada na demanda por usos alimentares. A formação socioespacial que caracteriza cada civilização e sua cultura, está diretamente relacionada pelas formas com que se apropria da natureza e a transforma para garantir a sua reprodução social, ou seja, passamos mais uma vez pela discussão dos diferentes hábitos alimentares.

Enfim, a questão poderia ser expressa da seguinte forma: qual é a geografia da alimentação? Falo disso, pois para produzir qualquer alimento, faz-se necessário pensar todo circuito espacial de produção, definido e defendido por Milton Santos como um dos papéis dos geógrafos. Sem falar que, historicamente, a análise geográfica se preocupa com um espaço que é fruto da ação do homem sobre a natureza, isso resulta em tipos diferentes de ocupações que denominamos de formação sócioespacial, ou seja, cada sociedade tem uma forma diferenciada de se apropriar e re-construir seu espaço. A humanidade re-organiza e constrói espaço para que? Bom, uma das intenções sempre presentes é a da produção, e aí entra a alimentação como uma das primeiras necessidades básicas e que representa um dos principais saltos evolutivos, quando a humanidade consegue deixar de depender do alimento oferecido pela natureza tão somente, e consegue produzi-lo.

Portanto, a alimentação (ou mesmo a falta dela ou sua carência nutricional) é um tema cada vez mais pertinente ao mundo global. Se torna um eixo central quando se discute qualidade de vida e, para tal, o alimento, em muitos casos, já deixou de ser considerado apenas em seu aspecto quantitativo, mas também e, principalmente, qualitativo. E quando falamos em qualidade, não tratamos apenas dos seus aspectos nutricionais que são imprescendíveis, mas falamos também de seus adereços simbólicos, que constroem culturas, identidades, perspectivas, memórias. O alimento é um objeto de estudo por excelência. Não falo somente de sua relação com a sociedade, pois os sociólogos já vem explorando a questão. Falo de sua relação com o circuito de produção, com o planejamento, com a gestão do espaço, com escalas de poder de decisão, de sua relação com os glocalismos e os localizmos. Falo dos espaços de consumo e, principalmente, de produção. Aliás, os espaços de produção vem sendo delimitados conforme sua especificidade e as identidades geográficas vem para ratificar isso.

Cabe a nós, geógrafos e cientistas de todas as bandeiras, abraçar e olhar para essa causa! Ela nos desafia a pensar os novos tempos e, principalmente, a projetar ações concretas ainda mais quando estamos em débito com a natureza.

Aline Weber SulzbacherGeógrafa, Mestre em Extensão Rural - UFSM/RS
Doutorado em Geografia - UNESP/Presidente Prudente

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