segunda-feira, 30 de maio de 2011

CREGEO: Um Conselho próprio para os Geógrafos?

Neste 29 de maio dia do GEÓGRAFO, data de grande relevância para a nossa categoria, nos permitimos fazer uma reflexão sobre os caminhos que percorremos até aqui e, qual é o futuro que a nossa profissão nos reserva.
Com o passar dos anos, inegavelmente, há uma tendência progressiva de crescimento e valorização dos Geógrafos. O “mercado” começa a perceber a nossa importância no momento em que nossas atribuições tornam-se fundamentais no desenvolvimento de setores técnicos e de pesquisas antes restritas a outras áreas.
Até mesmo por desconhecimento é que empresas, órgãos governamentais e instituições possuem dúvidas relativas às habilitações que podemos realizar. Mas, a partir da inserção gradual dos Geógrafos nestas organizações o reconhecimento das atividades desenvolvidas vai adquirindo força e a repercussão do trabalho realizado torna-se significativa.
                 
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É claro que ainda temos muito a conquistar, principalmente no que diz respeito a autovalorização profissional. Precisamos compreender que é através da organização que poderemos incluir nossa profissão no mesmo patamar alcançado por áreas que hoje dominam o mercado onde também podemos atuar.
Neste contexto e diante das notícias vindas a respeito da desvinculação dos Arquitetos do sistema CONFEA-CREA, com a criação do CAU-BR, deve surgir em nós Geógrafos uma motivação para a criação do nosso conselho próprio.
O exemplo dos arquitetos, claro que analisado detalhadamente, serve para iniciarmos um debate amplo sobre este possibilidade. Por mais boa vontade que possa existir através do CREA, a representação dos Geógrafos é de certa forma ineficiente, pois, as câmaras temáticas deste conselho possuem um reduzido número de profissionais da Geografia.
Neste caso, surgem algumas indagações que precisamos também considerar: os espaços muitas vezes estão disponíveis, mas há participação? Assim, retomo o que falei anteriormente, é preciso organização. Precisamos discutir sobre quem vai participar do conselho dos Geógrafos - que este blog lança ambiciosamente sob o nome de CREGEO (Conselho Regional, e federal, de Geógrafos) - Somente os bacharéis? Ou poderemos agregar a todos os graduados em Geografia?
São questões de grande relevância e da qual temos sim que iniciar um debate. Ainda mais nesta data que representa o dia dos Geógrafos e simboliza os avanços e a história percorrida por todos nós atualmente.
Parabéns a todos os Geógrafos e que o CREGEO não seja apenas um sonho!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Estágio profissional em Geografia: formação, prática e reconhecimento

Roberto Verdum
Departamento de Geografia/IG/UFRGS


Quando se discute a formação e o papel do geógrafo na sociedade, necessariamente, questionam-se a construção histórica dos referenciais deste profissional e a sua responsabilidade social frente às demandas que se apresentam como fazendo parte de suas atribuições profissionais. Neste sentido, é fundamental questionar nossa formação, o reconhecimento e a atuação profissional. Estes três processos estão imbricados e revelam-se essencialmente díspares no conjunto dos profissionais de Geografia no país.
Atualmente, avalia-se que dois conceitos são básicos na produção geográfica brasileira: planejamento territorial e ambiental. O primeiro se formaliza, sobretudo a partir da construção das economias após a II Guerra Mundial, que impulsionaram as primeiras tentativas de planificação territorial. Já as práticas relacionadas ao conceito de ambiente são derivadas das pressões sociais e das políticas de proteção à natureza, geradas pela própria disfunção dos programas de planejamento territorial. No Brasil, essas dinâmicas sociais culminam com a elaboração das políticas relativas à avaliação dos impactos ambientais e seus respectivos instrumentos – Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental - (EIA e RIMA) – a partir da década de 1980. Neste contexto, entende-se que aos geógrafos caberia buscar e assegurar a dinâmica das suas práticas profissionais operando os conceitos de ambiente e território na perspectiva do planejamento. Inclusive no seu aspecto preventivo e prospectivo. Assim, caberia à Geografia estudar, definir e caracterizar as configurações espaciais dos fenômenos através do conceito de território e ambiente com o uso das diversas técnicas inerentes a sua formação (p. ex.: cartografia, foto-interpretação, sensoriamento remoto, etc.).
Destaca-se que, para o estudo das configurações espaciais dos fenômenos, três níveis de análise são fundamentais:
a) poder distinguir o(s) fenômeno(s) a ser(em) estudado no espaço geográfico;
b) poder analisar o dinamismo diferenciado do(s) fenômeno(s): escala temporal;
c) poder analisar e representar a dimensão do(s) fenômeno(s): escala espacial.

Assim, reconhecer a necessidade de formação e de capacitação do profissional nesta perspectiva é fundamental, para que este possa responder à sociedade, a partir das suas demandas, além de poder elaborar outras proposições de estudos ainda não manifestadas por ela.
Neste sentido, é necessária a reflexão cotidiana entre os estudantes e os profissionais da Geografia sobre como fazer esta área do conhecimento ser (re) conhecida e a necessidade de se fazer reconhecer como importante profissional disponível à sociedade. Profissional este capaz de refletir, elaborar, propor e implantar projetos essenciais à melhoria de determinadas demandas sociais. Isto é, tanto aquelas ações profissionais consideradas diretamente aplicáveis em relação a essas demandas, como aquelas que são fundamentais para a construção do aprimoramento teórico e metodológico da Geografia.


Quando nos propomos a trabalhar com a disciplina GEO 01009 - Estágio Profissional em Geografia, do Departamento de Geografia - IG – UFRGS, tínhamos a intuição que esta disciplina teria uma importância significativa no que se refere à formação dos alunos do curso de graduação, assim como na externalização  das atividades profissionais que concernem ao bacharel em Geografia. Neste sentido, iniciamos nossa estratégia a partir de contatos com instituições públicas e privadas realizando um levantamento preliminar dos locais onde existiam colegas geógrafos em atividade. Além disso, ao iniciarmos a primeira turma em 1999 procuramos ouvi-los na tentativa de atender os locais de seu interesse para a realização do estágio, assim como das atividades a serem desenvolvidas. Desta forma, estrategicamente iniciávamos os primeiros contatos com profissionais geógrafos ou não, que trabalham em instituições potencialmente interessantes para o desenvolvimento das atividades do estagiário e, por conseguinte, para o Geógrafo. Ou seja, não só criávamos a vaga para a realização do estágio, mas, também, o (re) conhecimento das potencialidades desse profissional.
Hoje, pode-se avaliar que os resultados alcançados ultrapassam as expectativas, tanto em quantidade como na qualidade dos estágios oferecidos na disciplina. Como características essenciais das experiências desenvolvidas pelos estagiários, destacam-se as várias temáticas capazes de serem oferecidas, tais como: estudos de caracterização e gestão regional, planejamento urbano, estudos de caracterização e estratégias fundiárias, análise de processos e dinâmicas ambientais, educação ambiental, elaboração e gerenciamento de bancos de dados e geração de produtos cartográficos digitais. Em relação aos problemas propostos para os estagiários nas temáticas territorial e ambiental, verificamos uma diversidade que acompanha o leque de possibilidades de estágio, que crescem a cada semestre.
Reforçamos que, em relação a essas experiências de estágios, que poderiam ser pensadas como atreladas somente ao meio acadêmico, os resultados gerados são muito interessantes. Inclusive, merecem ser ampliadas pela adoção de estratégias da Comissão de Carreira do Curso, assim como das associações profissionais, AGB-PA e AGP-RS. Como exemplo, há a possibilidade de se efetivar, posteriormente aos seus estágios curriculares, a continuidade das atividades dos alunos como estagiários remunerados e/ou como técnicos na perspectiva da futura contratação como geógrafos. Além disso, no contexto das relações que se estabelecem com as instituições que os acolhem, projeta-se a possibilidade do surgimento de projetos mútuos entre o Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFRGS e essas instituições. Este fato tem incentivado e consolidado a política adotada na disciplina, assim como, tem proporcionado a ampliação do reconhecimento do profissional nas demandas sociais. Demandas estas que não só se restringem a uma mera questão de mercado, mas que buscam construir outras referências que possibilitem a atuação profissional e o aprimoramento técnico-científico associados a elas.


Dicas de leitura:

CALLAI, Helena Copetti. A Formação do profissional da Geografia. Ijui: Ed. Unijui, 1999. v1. 80p.

HEIDRICH, Álvaro Luiz & VERDUM, Roberto. Estágio profissional em Geografia pela UFRGS. Porto Alegre: Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Porto Alegre. Boletim Gaúcho de Geografia. nº 27. p. 166-70. 2001.

PEDROSO, Nelson Garcia (org.) Geógrafos legislação, formação e marcado de trabalho. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros. 1996.

VERDUM, Roberto. Perícias e laudos técnicos: Um espaço para uma nova prática científica. In: VERDUM, Roberto e MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. RIMA: Relatório de impacto ambiental - legislação, elaboração e resultados. Porto Alegre: Ed. da Universidade da UFRGS, 5° edição. 2006.